A Poléxia contratou o produtor John Ulhoa, do Pato Fu, responsável pela música 'Você Já Teve Mais Cabelo'
Heitor e Banda Gentileza entram no estúdio em julho com o Profeta, que trabalhou com O Rappa e Lenine
A tecnologia facilitou muito o registro e a promoção dos trabalhos das bandas musicais. Hoje em dia, elas se auto gerenciam, divulgam músicas via internet e até gravam discos em casa. No entanto, muitas não abrem mão de trabalhar com um produtor musical, que deixe suas músicas mais aprimoradas e sem perder a essência independente.
Em Curitiba isto pode ser confirmado nos últimos trabalhos de diversos artistas. O pioneiro foi o Terminal Guadalupe, 'descoberto' pelo produtor Tomás Magno, que escolheu o grupo para trabalhar. ''No início, não acreditávamos que alguém do estúdio Toca do Bandido quisesse nos gravar, até porque nem dinheiro tínhamos para isso'', comenta o vocalista Dary Jr. ''No entanto, Tomás estava empolgado com o material que havíamos preparado e tornou o custo da gravação acessível. O resto é história'', completa.
O resultado, o álbum ''A Marcha dos Invisíveis'', levou o TG a tocar de Cuiabá (MT) a Porto Alegre (RS) e a figurar nas principais listas de melhores discos de 2007. O acabamento das músicas empolgou vários artistas da cidade. ''As bandas perceberam que poderiam conseguir um resultado melhor se tivessem o auxílio de um profissional especializado em vez de bancar autoproduções que soam como CD demo. Eu apresentei o Tomás para esses grupos e todos eles estão muito satisfeitos com as gravações'', comenta Dary, que hoje está gravando o EP ''O Tempo Vai Nos Perdoar'' com o veterano Roy Cicala, que já produziu de John Lennon a Frank Sinatra.
Após este episódio, Tomás Magno foi chamado para produzir mais artistas de Curitiba, como Fuja Lurdes, Anacrônica e Sabonetes. Com esta última, gravou um EP no ano passado e está preparando o álbum de estréia para este ano. Seu baixista, Rodrigo Lemos, é integrante da Poléxia, banda que contratou o produtor John Ulhoa, do Pato Fu, responsável pela música ''Você Já Teve Mais Cabelo''.
''Achei muito interessante a maneira que cada um tem de conduzir uma produção; o John gosta de procurar elementos menores dentro da canção para valorizar. Geralmente produz do micro para o macro. O Tomás, por sua vez, possui uma visão macro da música e costuma ir aparando as arestas até ficar só com o essencial'', compara Lemos
Para ele, um olhar ''estrangeiro'' para suas músicas foi de grande contribuição. ''Quando se está muito envolvido, a tendência é perder por completo o senso crítico e a referência que se tinha no começo do processo'', explica.
A Poléxia lança o álbum ''A Força do Hábito'' em breve, enquanto os Sabonetes estão em processo de gravação, assim como o Charme Chulo, que tem o nome de Carlos Eduardo Miranda na produção de seu próximo álbum. ''Ele se interessou e começou o trabalho de produção com a gente'', relata o vocalista Igor Filus.
A moda pegou mesmo. Heitor e Banda Gentileza entram no estúdio agora em julho com o produtor carioca Plinio Profeta (que trabalhou com O Rappa, Lenine e Pedro Luis e a Parede).
''Se uma banda acha que tem um bom trabalho, tem mais é que valorizar. Assim que ganhamos um edital para gravar um disco pensamos na possibilidade de um produtor. Queríamos alguém que já tivesse trabalhado com bandas de peso e brasilidade. Fechamos com o Profeta'', comenta Heitor, que está empolgado com tantos trabalhos bons e bem produzidos na cidade. ''Muitas bandas estão fazendo músicas bem feitas e com potencial de alcance nacional. Este ano será ótimo para Curitiba''.
Terminal Guadalupe: a banda foi 'descoberta' por Magno, que escolheu o grupo para trabalhar
'O que importa é a verdade do artista'
Depois de sua primeira produção em Curitiba, em 2005, Tomás Magno passou a ser figura frequente na cidade. Natural da Bahia, Tomás passou 11 anos morando no Rio de Janeiro, mudando-se para São Paulo no ano passado. Nestes centros urbanos se envolveu com trabalhos musicais de estúdio ao lado do conceituado Tom Capone. Foi assistente, engenheiro de som ou produtor de álbuns de artistas como O Rappa, Detonautas, Gilberto Gil, Raimundos, Skank, Natiruts, Marisa Monte, Maria Rita, Milton Nascimento, Marjorie Estiano, Barão Vermelho, entre tantos outros, contabilizando mais de 70 discos. Ultimamente tem se dedicado bastante aos artistas independentes.
Folha Hoje, mesmo os artistas mais independentes estão trabalhando com produtores. Por que?
Tomás Essa mudança vem da vontade de se profissionalizar, é o anseio de fazer algo grande. As bandas que já eram melhores resolveram se profissionalizar de vez, e aceitar uma ajuda externa de profissionais que vivem disso.
Folha Você tem sentido essa necessidade só em Curitiba?
Tomás Não é só aqui, mas no País todo. O pessoal está cada vez mais aberto para a ideia do produtor ajudando a banda. Quando o artista contrata o produtor, ele vira um integrante da banda por algum tempo.
Folha Qual a principal vantagem deste trabalho para uma banda emergente?
Tomás É o fato do produtor estar desapegado das músicas e dos arranjos. Com o artista, muitas vezes acontece dele se viciar nele mesmo. O produtor é um cara de fora que vê outras opções. Às vezes um detalhezinho mínimo que ele percebe já vai fazer uma grande diferença não só para a música, mas para a banda toda.
Folha Produtor muda uma banda?
Tomás Não comigo. Eu nunca mandei um artista tocar de tal jeito. Eu só apontei outros caminhos. Quem cria é o próprio artista. Existe o produtor solo, que faz a música inteira para artista, mas esse não é o meu modo de trabalhar.
Folha E se for uma banda fraca e inexperiente, tem como o produtor salvar?
Tomás Não. Quando é assim, não tem jeito. O cara até pode fazer um bom disco, mas não vai ter verdade. O que importa é a verdade do artista. É isso que faz ele crescer ou não. Se o produtor tira essa verdade, ele é o pior produtor do mundo.
Folha O fato de o produtor ser de outra cidade, ter um olhar de fora, pode trazer benefícios?
Tomás Eu não afirmaria isso. O que eu digo é que o produtor deve ser experiente.
Folha Você tem alguma orientação ou conselho para as bandas da cidade?
Tomás Se o artista quiser representar algo para as pessoas, ele tem que criar arte. Não adianta só reproduzir.
Folha Há uma identidade curitibana na música da cidade?
Tomás Eu acho que Curitiba não tem apenas um tipo de musicalidade que possa ser classificada como ''rock curitibano''. A cena da cidade está além disso. É multicultural, que não explode para um lado só, mas para vários lados. Eu acho isso maravilhoso.
> Publicado originalmente na Folha de Londrina de 23-11-2008
Seja como assistente, engenheiro de som ou produtor, Tomás Magno contabiliza mais de 70 discos na carreira
Depois de sua primeira produção em Curitiba, em 2005, Tomás Magno passou a ser figura frequente na cidade. Natural da Bahia, Tomás passou 11 anos morando no Rio de Janeiro, mudando-se para São Paulo no ano passado. Nestes centros urbanos se envolveu com trabalhos musicais de estúdio ao lado do conceituado Tom Capone. Foi assistente, engenheiro de som ou produtor de álbuns de artistas como O Rappa, Detonautas, Gilberto Gil, Raimundos, Skank, Natiruts, Marisa Monte, Maria Rita, Milton Nascimento, Marjorie Estiano, Barão Vermelho, entre tantos outros, contabilizando mais de 70 discos. Ultimamente tem se dedicado bastante aos artistas independentes.
Folha Hoje, mesmo os artistas mais independentes estão trabalhando com produtores. Por que?
Tomás Essa mudança vem da vontade de se profissionalizar, é o anseio de fazer algo grande. As bandas que já eram melhores resolveram se profissionalizar de vez, e aceitar uma ajuda externa de profissionais que vivem disso.
Folha Você tem sentido essa necessidade só em Curitiba?
Tomás Não é só aqui, mas no País todo. O pessoal está cada vez mais aberto para a ideia do produtor ajudando a banda. Quando o artista contrata o produtor, ele vira um integrante da banda por algum tempo.
Folha Qual a principal vantagem deste trabalho para uma banda emergente?
Tomás É o fato do produtor estar desapegado das músicas e dos arranjos. Com o artista, muitas vezes acontece dele se viciar nele mesmo. O produtor é um cara de fora que vê outras opções. Às vezes um detalhezinho mínimo que ele percebe já vai fazer uma grande diferença não só para a música, mas para a banda toda.
Folha Produtor muda uma banda?
Tomás Não comigo. Eu nunca mandei um artista tocar de tal jeito. Eu só apontei outros caminhos. Quem cria é o próprio artista. Existe o produtor solo, que faz a música inteira para artista, mas esse não é o meu modo de trabalhar.
Folha E se for uma banda fraca e inexperiente, tem como o produtor salvar?
Tomás Não. Quando é assim, não tem jeito. O cara até pode fazer um bom disco, mas não vai ter verdade. O que importa é a verdade do artista. É isso que faz ele crescer ou não. Se o produtor tira essa verdade, ele é o pior produtor do mundo.
Folha O fato de o produtor ser de outra cidade, ter um olhar de fora, pode trazer benefícios?
Tomás Eu não afirmaria isso. O que eu digo é que o produtor deve ser experiente.
Folha Você tem alguma orientação ou conselho para as bandas da cidade?
Tomás Se o artista quiser representar algo para as pessoas, ele tem que criar arte. Não adianta só reproduzir.
Folha Há uma identidade curitibana na música da cidade?
Tomás Eu acho que Curitiba não tem apenas um tipo de musicalidade que possa ser classificada como ''rock curitibano''. A cena da cidade está além disso. É multicultural, que não explode para um lado só, mas para vários lados. Eu acho isso maravilhoso.
> Publicado originalmente na Folha de Londrina de 23-11-2008